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O uso do canabidiol no manejo da dor da endometriose, a visão do ginecologista




Rogério Tadeu Felizi1, Melissa Gonzalez Veiga2

1. Centro Universitário FMABC, Departamento de Ginecologia, Santo André, SP, Brasil. https://orcid.org/0000-0003-0917-4552

2. Centro Universitário FMABC, Departamento de Ginecologia, Santo André, SP, Brasil.https://orcid.org/0000-0003-1379-2230


Endometriose é uma doença crônica caracterizada pela presença de tecido endometrial fora da cavidade uterina. Os implantes endometriais podem ser detectados nos ovários, fundos de saco posteriores, ligamentos uterinos, peritônio pélvico e septo retovaginal. Com menos frequência, endometriose também pode ser encontrada em tórax, trato gastrointestinal, trato urinário, sistema nervoso central, cicatriz umbilical e tecido celular subcutâneo. É uma desordem ginecológica hormônio dependente que afeta cerca de 10% das mulheres em idade reprodutiva.1,2

Para muitas pacientes, a endometriose é uma doença debilitante caracterizada por dor crônica e infertilidade.3A dor da endometriose inclui dismenorréia, dispareunia, dor pélvica acíclica, disquezia e disúria. Além disso, a dor costuma estar associada a estresse psicológico e fadiga, piorando a qualidade de vida das mulheres acometidas.4,5

Apesar do conhecimento de que há várias vias envolvidas, os mecanismos patogenéticos da endometriose ainda não foram totalmente estabelecidos.6,7Identificar a exata patogênese da doença é um desafio para ginecologistas e pesquisadores, e é fundamental para o estabelecimento de condutas terapêuticas.2Nos dias atuais, as estratégias para o manejo da dor da endometriose estão baseadas em tratamentos hormonais, analgésicos, anti-inflamatórios e/ou ressecção cirúrgica das lesões.6Porém, nem sempre os tratamentos disponíveis são eficazes, não sendo raro a recorrência após o tratamento.8Portanto, é de grande importância a identificação de novas opções terapêuticas para condução do tratamento da endometriose. Recentemente, o sistema endocanabinóide emergiu como alternativa ao manejo terapêutico da dor crônica.9


O SISTEMA ENDOCANABINÓIDE E A ENDOMETRIOSE

Estudos recentes demonstraram que o sistema endocanabinóide desempenha um importante papel no estabelecimento, progressão e na dor da endometriose, agindo em mecanismos de inflamação, proliferação celular e sobrevivência celular, o que é crítico para o desenvolvimento de lesões endometrióticas e dor neuropática relacionada à doença.6,10Portanto, há aumento no número de pesquisas sobre aplicação de canabinóides e moduladores do sistema endocanabinóide com intuito de limitar a proliferação celular e controlar a dor.11

Estudos anteriores mostraram que o canabidiol é efetivo para o tratamento de sintomas da endometriose.12Uma revisão da Cochrane que envolveu pacientes com dor neuropática mostrou melhora de 50% no alívio da dor entre os usuários de canabidiol quando comparado ao placebo (21% vs. 17%), porém, foram identificados efeitos colaterais psiquiátricos e em sistema nervoso central.13Apesar de faltarem estudos com dados de longo prazo que garantam que o potencial benefício do canabidiol é superior aos efeitos adversos, o sistema endocanabinóide parece representar um alvo promissor para o tratamento da doença.

É urgente a necessidade de ensaios clínicos randomizados para investigação de segurança, tolerabilidade e eficácia do tratamento da endometriose com canabidiol. Essa pode tratar-se de uma possibilidade terapêutica na luta para restabelecer o bem-estar físico e emocional das mulheres acometidas pela doença.


REFERÊNCIAS

1. Sengul D, Sengul I, Maria J, Junior S. Caesarean section scar endometriosis : quo vadis ? 2022;68(1):1–2.

2. Donnez J, Cacciottola L. Endometriosis: An Inflammatory Disease That Requires New Therapeutic Options. Int J Mol Sci. 2022;23(3).

3. Maddern J, Grundy L, Castro J, Brierley SM. Pain in Endometriosis. Front Cell Neurosci. 2020;14(October):1–16.

4. Fauconnier A, Chapron C, Dubuisson JB, Vieira M, Dousset B, Bréart G. Relation between pain symptoms and the anatomic location of deep infiltrating endometriosis. Fertil Steril. 2002;78(4):719–26.

5. Escudero-Lara A, Argerich J, Cabañero D, Maldonado R. Disease-modifying effects of natural Δ9-tetrahydrocannabinol in endometriosis-associated pain. Elife. 2020;9:1–17.

6. Bouaziz J, Bar On A, Seidman DS, Soriano D. The Clinical Significance of Endocannabinoids in Endometriosis Pain Management. Cannabis Cannabinoid Res. 2017;2(1):72–80.

7. Clemenza S, Sorbi F, Noci I, Capezzuoli T, Turrini I, Carriero C, et al. From pathogenesis to clinical practice: Emerging medical treatments for endometriosis. Best Pract Res Clin Obstet Gynaecol. 2018;51:92–101.

8. Zakhari A, Delpero E, McKeown S, Tomlinson G, Bougie O, Murji A. Endometriosis recurrence following post-operative hormonal suppression: A systematic review and meta-analysis. Hum Reprod Update. 2021;27(1):96–107.

9. Carrubba AR, Ebbert JO, Spaulding AC, Destephano D, Destephano CC. Use of Cannabis for Self-Management of Chronic Pelvic Pain. J Women’s Heal. 2021;30(9):1344–51.

10. Andrieu T, Chicca A, Pellegata D, Bersinger NA, Imboden S, Nirgianakis K, et al. Association of endocannabinoids with pain in endometriosis. Pain. 2022;163(1):193–203.

11. Sanchez AM, Vigano P, Mugione A, Panina-bordignon P, Candiani M. The molecular connections between the cannabinoid system and endometriosis. Mol Hum Reprod. 2012;18(12):563–71.

12. Sinclair J, Collett L, Abbott J, Pate DW, Sarris J, Armour M. Effects of cannabis ingestion on endometriosis-associated pelvic pain and related symptoms. PLoS One [Internet]. 2021;16(10 October):1–12. Available from: http://dx.doi.org/10.1371/journal.pone.0258940

13. Mücke M, Phillips T, Radbruch L, Petzke F, Häuser W. Cannabis-based medicines for chronic neuropathic pain in adults. Cochrane Database Syst Rev. 2018;2018(3).


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